sábado, 2 de janeiro de 2010

ENCONTRO MARCADO





ENCONTRO MARCADO

A tarde se despedia lentamente, num vagar quase melancólico. Nem sentia que, aos poucos, a noite dizia "olá" e o vento agora se compunha ligeiramente mais frio. Observava, atentamente, o desfolhar das árvores que aquarelavam o parque do outro lado da rua. Realmente remontavam uma pintura, daquelas que pouco se vê por aí.

Fim de tarde, uma brisa outonal. Quase fim de estação. Quase fim de um sonho. Era assim que ela se sentia ao admirar toda aquela paisagem, como uma sentença já proferida de uma vida sem muito sentido. Ainda se perguntava o porquê de tudo aquilo, mas respostas não vinham. E se foram passando as horas, os minutos e os segundos de lamentações debruçadas nas lágrimas que, insistentemente, caíam sobre seu colo. Manchavam-lhe a face rosada, agora sem brilho, aquietando-se ao desmanchar-se no caminho percorrido.

Um coração que bate num compasso não mais que triste. A solidão, que devorando a alma, enrijece o corpo pelo soprar do vento, fragilizando os pensamentos que a rodeavam, tornando tudo mais gélido do que realmente era.

Tortura era imaginar o que poderia ter sido, como seriam os anos passados, como seriam os sonhos realizados de uma vida a dois. Tantos planos, tantos desejos, incontáveis, até. E nada! Nada seria mais verdade, tudo deveria ser esquecido, enterrado no passado como havia sido feito a anos atrás. Não havia mais esperanças, não havia possibilidades.

Ela se preparava para ir embora daquele lugar. Era sufocante permanecer ali, já que tudo trazia de volta lembranças que abriam feridas fundas no coração retalhado pela dor. Tantos anos de sofrimento, de incertezas, dúvidas que permeavam inquietações e faziam com que a vida fosse ainda mais difícil de ser suportada.

Mas como deixar aquele lugar com frustrações tão fortes. Não era possível acreditar que tudo tinha sido em vão e ela sabia que poderia ser assim. Algo dizia, soprava em seu ouvido:

- Não vá! Você irá sofrer mais ainda". - e a voz da consciência ainda teimava em dizer: -O que os olhos não veem, o coração não sente. Melhor não trazer o passado à tona.

Então por que havia ido até lá, para quê? O que queria de fato com isso?

- Certezas! - era o que seu coração respondia à voz.

Queria ver para definir dentro de si, o que realmente sentia, porque no fundo, a dúvida pairava, se depois de tantos anos restaria amor. E isso poderia mudar tudo em sua vida.

Sabia que não podia enganar a si mesma, sabia que não podia enganar os outros.

- Não está certo! - dizia a voz. E ela sabia disso. Mas o que fazer?

Ao levantar-se do banco do parque, pôs-se a caminhar. O sol ia embora junto com ela como se a acompanhasse naquele passeio.

Não demorou muito para avistar ao longe um contorno. Não seria possível. A tristeza já confundia seus olhos, as lágrimas turvavam sua visão? Não era a tristeza, era a vontade, bem mais forte que ainda resistia dentro dela.

Era sim verdade, chegou de repente, sem avisar para impedir que se fosse.

Então ela se aproximou, vagarosamente, ainda sem acreditar. Nem tudo tinha sido em vão pelo menos. Teria ainda o que recordar. O coração ficou agitado ao ter certeza do que via. Quase parou. Mas recompôs-se e sorriu.

Ele enxugou suas lágrimas com seu toque suave, amoroso. Seu rosto também estava encharcado. Era ainda como se lembrava, o mesmo sorriso, o mesmo jeito, a mesma voz. Nem acreditava. Ele estava mesmo na sua frente e seus olhos refletiam a emoção do reencontro.

Abraçaram-se por longos minutos. Corações agitados na emoção do momento. Puseram-se a caminhar de mãos dadas, sem medos, sem ressentimentos. A distância não havia permitido que se apagassem os sentimentos, não pôde ser cruel o suficiente para desfazer o que havia sido plantado em seus corações.

E a certeza era essa, o amor havia se mantido vivo, na mesma intensidade, na mesma proporção, mais maduro, porém, durante todos os anos que se passaram.

** Publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro - Edição 2009. Câmara Brasileira de Jovens Escritores - CBJE

Eritania Brunoro
Publicado no Recanto das Letras em 14/05/2009

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